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13/9/202409:01:02

Comerciantes do Entreposto de Bauru conquistam o Selo Indígenas do Brasil


Um casal chama a atenção entre os comerciantes do Mercado sobre Veículos (MSV) do Entreposto de Bauru (CEBAU), que ocorre às segundas e quintas-feiras. A autorizatária Miírian Sebastião e seu marido, Heloide Caetano, ambos da etnia terena, tornaram-se os primeiros indígenas paulistas a conquistar o Selo Indígenas do Brasil, certificação emitida pelo Governo Federal àqueles agricultores cuja produção enquadra-se tanto nas legislações ambientais quanto indigenistas.

Tal certificação surgiu após reunião em 01/08, realizada na Aldeia Tereguá com a Coordenação Regional Litoral Sudeste da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (SAF/MDA). “Ficaram mais de cinco horas fazendo perguntas: quantos quilos vendia, se a mandioca é da aldeia, se sou eu que planto, esses detalhes”, descreve Heloide sobre a visita de Juliana Antunes, agrônoma, e Geice Lima, socióloga, ambas integrantes da Superintendência Federal do Desenvolvimento Agrário (SFDA/SP), que é parte do MDA.

A ideia surgiu das andanças que o produtor rural fez em seus 51 anos de vida. “Vivi fora da aldeia e voltei. Comecei a fazer o que estou fazendo desde o primeiro dia e tinha o sonho de entregar na CEAGESP”, relata. “O Entreposto de Bauru é uma vitrine, desde que você tenha uma mercadoria boa”, completa.

“Nossa cultura aqui é de mandioca, batata-doce e abobrinha. Plantamos a mandioca originalmente para a subsistência e acabei encontrando uma oportunidade”, lembra o produtor. A volta do cultivo comercial à Terra Indígena de Araribá, no município de Avaí, a 45 km de Bauru e onde se localiza a Aldeia Tereguá, envolveu mudar a postura em comparação àquilo que acontecia anteriormente. “Os atravessadores desvalorizavam muito a mercadoria do pessoal da aldeia, que voltou agora a plantar justamente porque voltou a ter confiança”, explica.

O tipo de mandioca plantado na Tereguá é bem apreciado no mercado em geral. “A mandioca amarelinha é a que temos aqui e é considerada boa no mercado. É a tradicional de nosso povo”, destaca Heloide. A produção segundo os moldes indígenas teve uma inovação. “Sou o primeiro a embalar a vácuo”, conta Heloide, que lembra também de a produção indígena ter virado grife para o produto. “Os comerciantes sugeriram que puséssemos nome aludindo ao índio”, destaca.

A exemplo de outros comerciantes do CEBAU, a rotina é dura. “Cada madrugada que saí, 2 da madrugada, dia sim, dia não, compensou. Estou bem feliz porque não preciso mais trabalhar para os outros”, exalta o produtor. “Vão fazer dois anos que atuo no Entreposto e lá a mercadoria ficou conhecida”.

Para além dos limites do Entreposto, o negócio virou uma venda semanal de 2.500 kg que aproveita as mais recentes demandas alimentares, atingindo lugares bem além do interior paulista. “Forneço também para comida fitness e esse fornecedor manda para várias cidades”, lembra Heloide.

O ganho de escala refletiu-se também nas redondezas da Terra de Araribá. “A gente tem contrato com a prefeitura de Avaí para fornecer produtos às escolas da aldeia e também da área urbana”, lembra Heloide, enumerando outros projetos. “A gente pegou um projeto para vender mandioca e batata-doce à penitenciária de Bauru e agora estamos pegando a de Pirajuí”.

Avaí é a cidade mais indígena do estado de São Paulo em números proporcionais, com 15,1% de seus 4.483 moradores, correspondendo a 677 pessoas, divididas entre as etnias terena, guarani e caingangue. O sucesso da produção tradicional de mandioca para fins comerciais logo ganhou as conversas na Tereguá. “Hoje planto muita mandioca e incentivamos outras pessoas da aldeia a plantar. É um fortalecimento geral da comunidade”, descreve o comerciante.
Outros indígenas da Araribá já olham com atenção. “Comecei a conversar com o pessoal das outras aldeias. É preciso criar primeiro a confiança e eles estão vendo que nosso serviço é sério”, diz.

O sucesso começa a exigir ampliação de infraestrutura. “Fui tentando levar até onde deu com o carro que tenho e a carretinha. Preciso de financiamento para comprar um veículo maior”, lembra Heloide, que não se abate. “Você não para no obstáculo, mas olha para frente e pensa em superá-lo”.




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