12/3/201503:10:55
Levantamento da SEDES indica que período registrou maior volume de produtos ofertados
Bloqueio de estradas por caminhoneiros e, antes, as chuvas e as altas temperaturas no começo do ano. Muito se falou sobre a interferência desses fatores no abastecimento e na subida de preços dos produtos comercializados. Mas até que ponto isso é verdade? “A greve [dos caminhoneiros] não atrapalhou em nada a CEAGESP. O que tivemos foram alguns problemas muito pontuais, que não afetaram a quantidade ofertada nem os valores praticados. Algumas pessoas tentaram se aproveitar dessa situação para majorar preços”, afirma o economista Flávio Luis Godas. Responsável pela Seção de Economia e Desenvolvimento (SEDES), ele supervisiona uma equipe que percorre, diariamente, o Entreposto Terminal São Paulo (ETSP) para coletar informações sobre a comercialização dos produtos. Há 22 anos na Companhia, ele responde também pela elaboração do Índice de Preços CEAGESP, que indica mensalmente a variação de valores no atacado de frutas, legumes, verduras, pescado e diversos. Formado pela UniSant´Anna e pós-graduado em Administração com Sistemas Integrados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Flávio Godas mantém uma paixão fora do ETSP: a torcida pelo Palmeiras. Na entrevista a seguir, o economista desmitifica as versões sobre desabastecimento e uma consequente elevação de preços. Fala, ainda, o que deve ocorrer diante de um possível agravamento da crise hídrica no Estado de São Paulo.
Tivemos excesso de chuvas e de altas temperaturas nos primeiros meses do ano. Até que ponto isso interfere na oferta de produtos?
Esse conjunto é o principal aspecto que interfere na oferta de legumes e verduras. O excesso de chuvas e as altas temperaturas, que ocorrem no verão, são normais. Isso, que acaba acontecendo no primeiro trimestre, é extremamente prejudicial, pois é quando, especialmente, os legumes e as verduras atingem o maior preço. Temos uma diminuição do volume ofertado, perda da qualidade e aumento dos preços. Há ainda o fato de que as pessoas preferem consumir, nessa época, alimentos mais leves e saudáveis. Trata-se, realmente, do período em que esses produtos alcançam o pico de preço.
O bloqueio de caminhoneiros nas estradas afetou de alguma forma o abastecimento na CEAGESP?
Não. A última semana de fevereiro, quando tivemos a paralisação, foi exatamente o período em que houve o maior volume ofertado. Tivemos alguns problemas muito pontuais, casos do mamão vindo da Bahia e da cebola proveniente de Santa Catarina. Mas nada atrapalhou a quantidade ofertada e os preços praticados. Algumas pessoas tentaram se aproveitar dessa situação para majorar preços. Elas acabaram usando isso como desculpa, principalmente na ponta, no varejo. É importante deixar bem claro: a greve dos caminhoneiros não afetou a maioria dos produtos. O setor de verduras, por exemplo, vem 100% do próprio Estado de São Paulo, de regiões próximas à capital. Vi pessoas justificando o aumento do preço da alface em razão da paralisação, o que é um absurdo. A greve, realmente, não atrapalhou o abastecimento na CEAGESP.
Então, não havia motivo algum para a dona de casa encontrar produtos mais caros na feira ou no mercado.
A greve dos caminhoneiros poderia ter afetado alguns poucos produtos. Porém, isso não aconteceu. Por outro lado, sem dúvida alguma, esse é o período em que o consumidor mais sente os efeitos negativos das condições climáticas. Como disse, chuvas e altas temperaturas são muito prejudiciais às hortaliças, principalmente àquelas mais sensíveis. Isso, sim, acaba diminuindo o volume ofertado e afeta a qualidade desses produtos, elevando seus preços tanto no atacado quanto no varejo.
O que podemos esperar se tivermos problemas maiores com a falta d´água?
No início de fevereiro estávamos muito mais preocupados. O nível do Cantareira chegou a 5%, o que acabou inibindo investimentos por parte do produtor rural, principalmente da região do Alto Tietê, deixando o cenário alarmante a médio e a longo prazo. Com os produtos que já estavam plantados não haveria muitos problemas. Porém, o produtor rural, deixando de investir por medo de não saber se teria água para irrigação, trouxe uma preocupação bastante grande. Mas houve muita chuva em fevereiro, o que amenizou essa situação. No início de março, o quadro ficou um pouco mais tranquilo em relação a fevereiro. Com isso, o produtor se sentiu mais propenso a investir. Esse é um setor que se restabelece rapidamente. Uma cultura de alface, por exemplo, com 40 dias já é possível se fazer a colheita. Março ainda deve ter preço elevado, mas a partir de meados de abril já deveremos voltar ao patamar tradicional em função do racionamento d´água e do clima. Com isso, os preços já devem caminhar para a normalidade.
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