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Ontem foi o 40º aniversário do entreposto de Marília (CEMAR), inaugurado por Paulo Maluf, governador à época. Sua construção, feita pela construtora paulistana Construbase, foi bem rápida, ainda mais considerando que não foram usadas estruturas pré-moldadas e os recursos da construção civil à época. “Aqui foi tijolo e chegaram a trabalhar 180 peões na construção”, conta Cícero Carlos da Silva, que esteve envolvido na obra e posteriormente trabalhou na unidade como vigia, evoluindo em funções administrativas e tendo inclusive sido gerente por nove anos, de 2004 a 2013. “Se fosse hoje, seriam uns seis meses”, conta ele, que trabalhou na unidade desde 28 de novembro de 1981 e só parou no ano passado, ao se licenciar por hoje ser vice-prefeito do município.
Localizada em um terreno de 76,5 mil m², a unidade tem área construída de 2.635 m², divididos em 24 boxes, 68 módulos e quatro salas, tendo um total de 33 permissionários. Com volume anual de comercialização é de 14,4 mil toneladas, respondendo por 0,3% do total da rede CEAGESP e tendo uma média mensal de 1,2 mil toneladas/mês. O terreno onde a unidade se localiza era cercado de fazendas de gado e de café, uma paisagem que mudou muito após sua instalação e urbanizou-se com comércios e indústrias, além de áreas residenciais.
Nos primeiros tempos, ser o dispositivo urbano mais estruturado na área gerava necessidade de se abrir para o entorno. “Muitas vezes tivemos de emprestar o telefone para prestar socorro”, conta Cícero, lembrando das muitas vezes em que moradores próximos precisaram do recurso em ocasiões de emergência, principalmente quando ocorriam chuvas.
Sobre os fenômenos naturais, um deles em especial marcou a história da unidade: o vendaval de 1989, que arrancou telhados do pavilhão e de outras estruturas do entreposto e deixou a unidade desativada por dois anos. A retomada acabou sendo difícil por parte dos permissionários. “Alguns voltaram, outros quebraram e outros não tiveram interesse em voltar”, conta Cícero.
Essas consequências duradouras acabaram gerando problemas nos anos seguintes. A unidade chegou a operar terceirizada, tendo sido tocada pela Trabast entre 1995 e 1996 e pela Hofig Júnior entre 2000 e 2001. Mesmo nesses tempos mais complicados, o mais antigo permissionário da unidade, Antônio Ramos, seguiu firme. “Só saio do entreposto quando não puder mais trabalhar”, conta ele, que comercia tomate, mora nas redondezas desde 1975 e está na unidade desde a abertura.
Dos entrepostos interioranos, é dos poucos que não teve implementações maiores realizadas após sua inauguração. O maior destaque é a horta comunitária, surgida em 2005. “Foi um trabalho social. Na época a diretoria considerou fazer desde que fosse junto com a comunidade local”, conta Cícero. Isso se traduziu em um projeto que chegou a atender 180 famílias de uma favela próxima, que há uns oito anos foi desfeita e substituída por dois loteamentos de casas populares, um deles ainda perto do CEMAR.
Outro projeto foi o sopão, criado em 2007 e que ainda existe, com as doações dos permissionários. “Está aí até hoje e atende umas 70 famílias”, conta Cícero. A unidade também tem um trabalho social próximo com a FAIP, uma das instituições de ensino superior do município.
Ao longo dos anos, também desempenhou papel importante no cotidiano de Marília. “Ajudei no final dos anos 1980 e começo dos 1990 na implementação dos varejões e sacolões da cidade”, conta Cícero.
Pela proximidade, alguns permissionários que se encontram no CEMAR também acabam tendo unidades no entreposto bauruense (CEBAU). Há também uma certa presença de produtores rurais que operam na unidade. “Aqui ainda existe aquele que colhe e leva para a venda”, conta Rosalina Yoshie Sacae, gerente da unidade há um ano e desde 2012 na CEAGESP. “É algo que a gente quer manter”, conta, lembrando de o quanto essa categoria sofreu com a combinação de geada e seca que ocorreu no ano passado.
Sobre ser mulher em um ambiente predominantemente masculino, Rosalina encara de letra. “O primeiro comentário que ouvi foi ‘vão te engolir’. Levei como incentivo para mostrar o contrário”, conta ela. “A gente não pode se deixar abalar”.
Entre os desafios importantes que enfrenta, está uma licitação em organização e a atração de novos permissionários para a unidade. “Ela está em uma localização boa”, conta a gerente sobre o fato de estar ao lado do grande eixo viário conhecido por Rodovia Transbrasiliana, que corta o país de Aceguá (RS) a Marabá (PA).
Entre os comerciantes que se encontram no CEMAR, alguns deles desde o começo, a tarefa é manter o clima de união. “Digo para eles que se tudo estiver bem cuidado, é bem para todos”, conta Rosalina, que em seu primeiro ano conseguiu enxugar despesas operacionais. Entre os planos para o futuro do CEMAR, está a criação de uma versão local do Mercado de Flores que outras unidades já têm.
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